Parte do nosso problema como espécie é que somos muitos bons em fazer coisas perfeitas. Podemos colocar um objetivo extraordinário na cabeça e – com um sacrifício heróico, incontáveis horas de esforço, muitas voltas erradas e períodos de intenso desespero – podemos atingir o alvo. Podemos fazer uma obra-prima, exceder todas as expectativas normais, triunfar e admirar o avanço da humanidade.
No entanto, é crucial insistir: a busca pela perfeição – sustentada como um objetivo coletivo da era moderna – carrega graves perigos. Todos nós podemos ter momentos perfeitos, ocasionalmente alcançar feitos perfeitos, mas não está no poder de ninguém que já passou pela terra ter uma vida perfeita.
Para combater esse ideal da modernidade, uma filosofia de imperfeição deve ser aplicada em nossas vidas. Nos relacionamentos, torna-se a base da tolerância e do bom humor. Um senso da realidade do outro só emerge quando podemos admitir nossa vulnerabilidade e medo mútuos. O que buscamos no amor não é tanto um ser perfeito, mas alguém que possa nos avisar de suas múltiplas falhas com discernimento. E no lado receptor do amor, ansiamos não tanto por alguém que se assuste conosco, mas que veja nossas falhas com clareza, mas que os trate com generosidade e carinho.
No trabalho, uma filosofia do imperfeição nos prepara para quanto tempo algo levará para ser produzido. Não esperamos que o best seller, o plano de negócios, a pintura ou a central elétrica dêem certo de primeira; devemos nos preparar para uma longa frustração e, portanto, estarmos mais prontos para enfrentar as inevitáveis reviravoltas em nosso caminho. O que acaba parecendo perfeito, devemos lembrar, que passou por muitas fases, revisões, recomeços e momentos infernais.