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Autoconhecimento
Sobre a importância de viajar para dentro
Por mais que afirmemos o tempo todo que gostaríamos de não ser tão ansiosos, solitários, desconectados e esgotados, raramente empreendemos esforços sistemáticos e verdadeiramente concertados para não sermos nada disso.
Nossas ações nesse sentido, quando conseguimos colocá-las em prática, tendem a ser modestas e intermitentes: um novo livro lido, uma vela que acendemos esporadicamente, um fim de semana no meio do mato, aquela mesma promessa de Ano Novo. No entanto, evitamos reorganizar fundamentalmente nossas atividades em nome de uma vida mais serena, voltada para dentro e sincera. Deixamos nossas ambições de calma em segundo plano para dar prioridade a outras mais comuns e barulhentas: ganhar dinheiro, criar uma família, obter status.
Como seria a vida se realmente elevássemos a serenidade interior e a busca pelo autoconhecimento à nossa prioridade absoluta? Que vida seria essa se tudo o que fizéssemos – se todos os nossos objetivos práticos e psicológicos –, do amanhecer até a hora de dormir, tivessem permanentemente como meta um estado mental reflexivo e tranquilo?
Para começar, provavelmente procuraríamos viver juntos, em comunidade, longe da vida solitária e individualista dos grandes centros urbanos ou da discórdia tão comum nas famílias nucleares. Procuraríamos viver, então, entre um grupo de pessoas igualmente comprometidas em conter a ansiedade, mas também igualmente sensíveis à perda do controle sobre valores mais elevados.
Essa comunidade ideal seria marcada pela gentileza, delicadeza e uma grande dose de empatia pelas dificuldades do que é de fato ser humano. Entre essas pessoas, não haveria pressão para impressionar uns aos outros ou negar as próprias tristezas e preocupações. Todos estariam abertos à ideia de que estavam se sentindo um tanto exaustos, derrotados ou mesmo perdidos, ao mesmo tempo que estariam profundamente comprometidos em trabalhar em prol da própria cura e de oferecer mais generosidade aos demais.
Os monges cristãos compreenderam desde cedo que viver como parte de uma comunidade regida por um ideal exigiria um tipo específico de ambiente arquitetônico e localização. Os mosteiros que surgiram pela Europa na Idade Média reforçavam esses compromissos espirituais com características arquitetônicas específicas: paredes de pedra maciças, móveis simples mas nobres, pátios internos, mesas comunitárias, hortas e quartos simples (embora muitas vezes elegantes) equipadas com uma cama, uma mesa pessoal e uma vista estreita para o campo aberto. Os mosteiros ficavam normalmente situados longe das cidades, para que seus membros pudessem se concentrar em seus estudos e pensamentos, enquanto se inspiravam com regularidade em caminhadas pela natureza.
Existem diferenças óbvias entre uma vida dedicada a Deus e uma dedicada à Calma Interior, mas podemos imaginar o quanto a arquitetura e o uso do espaço público podem influenciar (ou não) a busca comunitária pelo autoconhecimento pela serenidade. Propriedades de uso comum, com grandes salas de jantar, biblioteca e espaços para reuniões, ao redor das quais seja um prazer caminhar para compartilhar com os outros parte da própria vida interior.