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Uma Vida Mais Bela

Uma Vida Mais Bela

Qual a importância da beleza em sua vida hoje? Pode ser difícil admitir que nos importamos com a beleza – seja nossa beleza física, ou a do mundo à nossa volta – quando parece haver tantas questões mais dignas de atenção. Enquanto o mundo ainda enfrenta problemas sérios – como fome, guerras, desigualdades sociais, ameaças ambientais – a estética pode parecer uma preocupação fútil para termos uma vida mais bela.

 

A pesquisa que a Lancôme fez sobre a felicidade continha perguntas sobre como fazer a vida mais bonita agora. É interessante que a pesquisa tenha feito essa identificação entre uma vida feliz e uma vida bonita. Nos acostumamos a diferenciar esses conceitos, especialmente quando consideramos a beleza fútil, e a felicidade tão importante. Mas, na verdade, pela maior parte da história, os conceitos de uma vida boa, de uma vida bela, ou de uma vida feliz, eram muito próximos, de fato.

 

Na cultura helênica, por exemplo, havia uma estreita relação entre os conceitos de Bom, Belo, Justo e Verdadeiro. Uma obra de arte especialmente bonita era considerada inspirada pelo divino, pelas musas, e, portanto, continha algo de bom e verdadeiro. Para Platão, uma coisa bela, e a emoção que experimentamos ao vê-la, nos põe em contato com um ideal eterno e imutável, a verdadeira beleza, no “mundo das ideias”, que era compreendido como mais verdadeiro que o mundo real. A apreciação estética não era apenas um prazer, portanto, mas também um caminho para o conhecimento.

 

Na idade média, a beleza dos rituais e obras sacras refletia o poder da igreja. A opulência e imponência das catedrais invocavam, através da estética, uma experiência transcendental. Apontavam que aquele era o caminho para a verdade, esperança e conforto, ao mesmo tempo revelando um ideal inatingível de perfeição.

 

Só muito recentemente, no referencial histórico, a partir do Iluminismo, que um racionalismo prático tratou de desfazer qualquer mistura entre verdade, bondade e beleza. Sem dúvida, um importante ensinamento. Pessoas belas podem ser muito más, lindos textos podem ser muito falsos, e há enormes vantagens em sermos melhores, hoje em dia, em diferenciar essas coisas.

 

Mas também perdemos muito quando simplesmente relegamos a estética ao segundo plano. Isso porque a beleza das coisas à nossa volta, do ambiente em que vivemos, do design e da cultura que nos cerca, nos afeta de formas muito profundas. Somos pessoas muito diferentes dependendo do que está diante de nossos olhos.

Steve Jobs tinha uma aguda clareza desse fato, e construiu o sucesso e a reputação de sua empresa no ideal do design. Isso não quer dizer apenas fazer aparelhos bonitos, mas oferecer uma experiência prática, agradável, acessível, desenhada para ser atraente e prazerosa (e ele pode ter tido mais ou menos sucesso em diferentes instâncias, mas esse era um ideal cujo valor ele enxergou como ninguém). Podemos entender que objetos de design são aqueles que foram cuidadosamente pensados, por seus idealizadores, para serem bons. Não apenas bonitos, mas bons, bons em fazerem aquilo que eles foram pensados para fazer. Coisas que nos trazem aquela sensação estética, de prazer, de estar diante de algo especial. Isso não é verdade para a maioria dos objetos que nos cercam, que muitas vezes nos frustram, nos sobrecarregam, ou apenas perdem a oportunidade de nos fazer sorrir por dentro.

 

Isso vale também, obviamente, para nós mesmos. Estimular a preocupação com nossa aparência, com o corpo, com a beleza física, é um campo minado. Somos bombardeados com modelos irreais de beleza em filmes, revistas e redes sociais, o que torna a preocupação estética uma verdadeira armadilha para a autoestima. Mas isso é entender só até a metade o que significa cuidar da beleza. A mesma importância que atribuímos ao design das coisas, vale para nós. Também podemos ter o mesmo cuidado, gentil e deliberado, com nós mesmos. Isso não tem nada a ver com sermos, ou não, objetivamente bonitos, nem nos acharmos bonitos, certamente não nos compararmos às estrelas de Hollywood. Não se trata de atribuir um valor arbitrário, mas da relação que estabelecemos com nós mesmos, de cuidado e atenção.

 

Quando consideramos a beleza como apenas uma futilidade, perdemos oportunidades importantes de nos conhecer melhor. Primeiro, porque todas as decisões estéticas, das roupas que usamos, ao corte de cabelo, maquiagem, perfume, acessórios, até nossa postura, são definições de como nos vemos, não só de como seremos vistos. Segundo, porque todo cuidado que tomamos com nós mesmos é um importante exercício de autoconhecimento. É uma forma de ir, ao mesmo tempo, definindo e conhecendo nossa identidade e nossos valores.

 

E por isso o design e a estética fazem diferença, e têm importância. A vida fica, de fato, mais bela, e mais feliz, quando temos esse cuidado com as coisas que nos cercam, com os ambientes em que vivemos e, especialmente, com nós mesmos.

 

Texto criado especialmente em parceria com a Lâncome.

By The School of Life

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