04/26/2019
Todos
Propósito no Trabalho
Conseguir que as pessoas trabalhem arduamente e façam o seu melhor – sejam altamente motivadas – é um grande problema não apenas nas empresas, mas também na economia. Todos podem reconhecer em si mesmos a enorme diferença que a motivação traz: você enfrenta os desafios com energia, conclui tarefas rotineiras, mantém a calma sob pressão, encontra soluções para problemas. Se pudéssemos destravar esse tipo de atitude em nós mesmos, haveria, mais amplamente, uma produtividade muito maior e uma economia próspera.
Ainda assim, as empresas lutam constantemente com a motivação. Seus funcionários parecem não se importar com o trabalho em si: fofocam, batem papo, ficam entediados, cansam-se facilmente, estão com a cabeça em outro lugar, não chegam todo dia dispostos a superar os problemas, fazem o mínimo possível, estão sempre sonhando com folgas e férias, vivendo para o final de semana. Parecem ficar muito doentes – e sempre tiram licença. Querem uma promoção, não porque seriam realmente bons em arcar com responsabilidade extra, mas porque é a forma de ganharem mais dinheiro. As organizações estão constantemente brincando com as alavancas da motivação financeira. As pessoas podem ser movidas pelo dinheiro, mas também podem ser movidas e muito mais motivadas por outras coisas.
No entanto, há alguns exemplos muito impressionantes de motivação fora deste sistema.
As forças armadas também nos dizem algo sobre de onde vêm os tipos mais fortes de motivação.
No exército, o soldado não pensa apenas que está servindo a seus próprios interesses; ele se vê servindo aos melhores interesses de seu país. Acredita que o que está fazendo é certo e profundamente importante. Não é pelo dinheiro que está pronto para sofrer provações e se expor a um grande perigo; é pela honra de seu país ou para proteger as pessoas que ama. Aqui, a motivação é resultado de a pessoa operar com uma sensação visceral de encorajar uma parte do que pode se chamar de “Bem Maior” através de seu trabalho. O soldado precisa ser pago (se não, como se sustentaria?), mas não é o dinheiro que traz o apelo emocional.
“O Bem Maior” não é um termo que tendemos a usar diariamente, e é perfeitamente compreensível que fiquemos um pouco nervoso com ele, mas “o Bem Maior” faz perfeito sentido intuitivamente: é a satisfação das mais altas necessidades da humanidade. São todas as coisas consideradas alinhadas a um ideal de prosperidade humana e com o melhor lado do indivíduo – o que os filósofos gregos chamavam de “eudaimonia”. Isso inclui, por exemplo, cuidar, proteger, encantar, abrigar, ensinar e capacitar os outros.
Embora o capitalismo tenda a descrever os humanos como criaturas principalmente movidas pelo dinheiro e autoengrandecedoras, há um ponto importante até o qual realmente somos movidos a servir a outras pessoas – e sentir nossas maiores emoções com isso.
Obviamente, as pessoas discordam sobre o que exatamente constitui a melhor forma de servir aos outros, mas a busca não é por uma só coisa que possa motivar a todo mundo. O que as companhias precisam encontrar é um relato de serviço autêntico no qual possam acreditar e que querem que seus funcionários compartilhem.
Quanto mais o funcionário sente que está contribuindo para o “Bem Maior”, menor problema com motivação existe. Ele vê seu trabalho como algo importante e quer fazer do jeito certo. Acredita profundamente que isso precisa ser feito e sente orgulho de sua participação (mesmo que modesta) para que se concretize. O dinheiro é um ingrediente vital aqui, mas é o valor da empreitada que move as pessoas. Se uma organização conseguir se apresentar de forma convincente como servindo ao “Bem Maior”, haverá menos necessidade de utilizar o instrumento do dinheiro como fonte principal de motivação (pela punição ou pela recompensa).
A sociedade frequentemente é esnobe nesse sentido. Joga glamour sobre neurocirurgiões, mas ignora o trabalho mais humilde dos enfermeiros. Fica impressionada com pilotos de caça, mas não muito com guardas de trânsito. Ainda assim, as atividades chamadas “inferiores” sempre estão conectadas com as superiores. É preciso simplesmente ter um olhar mais generoso, imaginativo e até artístico para perceber o elo.
Na economia ideal, todas as empresas seriam focadas em atender a nossas verdadeiras necessidades. Então, teriam um caso muito bom para defender: todas realmente estariam servindo ao “Bem Maior” de forma mais ou menos direta. Portanto, cada trabalho valeria a pena e a pessoa que o realiza teria pleno respeito do público e de si mesma. Além disso, os donos das empresas teriam igualmente direito a essa consideração.
Ainda não chegamos lá, mas já podemos ver o formato do futuro do capitalismo: um mundo no qual aprendemos cada vez mais a gerar dinheiro com o “Bem Maior” – e onde aprendemos a tornar o “Bem Maior” mais visível aos funcionários e ao mundo, para que a pessoa trabalhe por dinheiro, mas, o mais importante, que consiga ver que trabalha para deixar o mundo um pouco melhor, um clipe de papel elegante por vez.