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Autoconhecimento, Relacionamentos
Por que reagimos de forma exagerada
Quanto mais vivemos, mais somos convidados a reconhecer uma verdade incômoda e preocupante sobre o caráter humano: nossa tendência inata de reagir de forma exagerada a tudo.
Crianças pequenas são, classicamente, exageradas: todos nós sabemos disso e entendemos perfeitamente. Elas estão por aqui há apenas três ou quatro verões e, portanto, tudo parece naturalmente muito maior, mais triste, mais feliz, mais trágico e mais encantador do que realmente é. É a primeira vez que o Pimpão perde um olho, a primeira vez que a naninha some, ou que alguém grita com eles. Assim como é a primeira vez que eles veem uma fonte de chocolate no shopping, ou um escorregador ou uma bolha de sabão.
Ocorre que, bem mais do que gostaríamos de assumir, nós reagimos de forma muito parecida à das crianças mesmo depois de adultos. Um problema no trabalho, quando estamos ali no olho furacão, parece o fim do mundo. Uma festa com gente desconhecida parece aterrorizante. O computador quebrado é uma catástrofe. O prazo que se aproxima é atroz. Contudo, pouco tempo depois, nada disso parece mais tão desafiador. As razões pelas quais ficamos tão assustados, animados ou deprimidos nos escapam.
As explicações quase sempre estão na nossa própria história. Um bom pai ou uma boa mãe sabe muito bem que crianças têm propensão a reagir de forma exagerada, então se colocam à disposição para acalmá-las. Não, não tem um tigre atrás da janela, é apenas o vento. Não, o professor não é um monstro, ele só estava cansado. Você não está morrendo, é só um sangramento no nariz. Com essas contínuas e gentis recalibrações, a criança percebe o quanto suas respostas iniciais podem estar longe da realidade e, aos poucos, aprende a ter uma perspectiva mais serena.
Mas nem todos nós fomos abençoados com um pai ou uma mãe acolhedores. Há pais que não apenas confirmam como agravam ainda mais os maiores medos de seus filhos. Não é apenas horrível, é abismal, e é hora de quebrar a casa, quebrar uma cadeira, bater em alguém e gritar tão alto que os vizinhos interfonam para a portaria. Não é apenas um erro ou uma notícia ruim: vale a pena eu como pai desejar a morte por causa disso. A cadeia de reações exageradas flui de geração em geração. Ninguém tem os meios para interromper o pânico, acender a luz e dizer com a calma e a autoridade necessárias: basta!
O lado ainda mais triste disso é que, enquanto reagimos de forma exagerada a determinadas coisas, estaremos simultaneamente reagindo de forma insuficiente a muitas outras. Enquanto concentramos a nossa energia no presente conflito com um colega de trabalho, esquecemos de perceber a bondade de um amigo, a mudança nas estações e a preciosidade da vida de forma mais ampla. Não conseguimos ouvir os sons mais suaves, de tão forte que está a batida de nosso coração. Ignoramos as flores da primavera, a oportunidade de autorreflexão e as nuvens sobre a cidade ao anoitecer. Parece muito mais atraente estar frenético e alerta, pronto para a batalha. E assim vamos aos poucos deixando de viver, de tão ocupados que estávamos antecipando o fim dos tempos.
Em tudo isso, também estamos sujeitos a não perceber a reação exagerada dos outros, acreditando que o que eles nos mostram de si deve ser substancialmente quem eles são, e não, como é o nosso caso, apenas um pico de ansiedade passageiro com o qual eles não merecem ser rotulados.
Nenhum de nós consegue domar a própria mente apavorada só porque alguém lhe mandou parar de ser tolo. É muito mais fácil se regular quando alguém demonstra calma por meio de seu próprio comportamento e, ao mesmo tempo, manifesta simpatia pelos motivos pelos quais estamos em pânico. Nenhum de nós quer reagir de forma exagerada. É que ninguém nunca nos mostrou que poderia haver outra maneira mais suportável de existir e estendeu pacientemente a mão para nos ajudar a chegar lá.