03/12/2019
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Por que os Pequenos Prazeres Importam
Estamos cercados por algumas ideias poderosas sobre o tipo de coisas que nos deixarão felizes. Achamos que para realmente produzir satisfação, os prazeres que devemos almejar precisam ser:
Raros – nós herdamos uma desconfiança romântica do comum (que é tido como medíocre, monótono e pouco inspirador) e trabalhamos com uma suposição correspondente de que coisas exclusivas, difíceis de encontrar, exóticas ou desconhecidas são naturalmente adequadas para nos encantar mais.
Caros – nós gostamos de validação econômica. Se algo é barato ou gratuito, é um pouco mais difícil de se apreciar; o abacaxi (por exemplo) saiu da lista de desejos de muita gente na Inglaterra quando seu preço passou de exorbitante (eles costumavam custar o equivalente a centenas de libras) a normal. O caviar continua parecendo de alguma forma mais interessante do que ovos de galinha.
Famosos – em uma experiência fascinante, um violinista célebre um dia vestiu roupas desalinhadas e parou para tocar em uma esquina. Foi amplamente ignorado, embora as pessoas lotassem grandes salas de concerto do mundo para ouvi-lo tocar as mesmas peças.
De grande escala – nosso foco está principalmente em grandes eventos, que esperamos que proporcionem prazer: casamento, carreira, viagens, a compra de uma casa nova.
Essas abordagens não estão totalmente erradas, mas involuntariamente exibem de maneira coletiva um preconceito perverso e inútil contra o barato, o facilmente disponível, o comum, o conhecido e o de pequena escala.
Como resultado disso: se alguém disser que fez uma viagem para Belize em um jato particular, automaticamente supomos que ele se divertiu mais do que alguém que tenha ido ao parque local de bicicleta. Imaginamos que visitar a galeria Uffizi, em Florença, será sempre melhor do que ler um romance no jardim de casa. Um jantar em um restaurante com lagosta ao Thermidor parece muito mais impressionante do que jantar um sanduíche de queijo em casa. Parece mais normal que o ponto alto de um fim de semana seja uma aula de asa-delta em vez de alguns minutos olhando para o céu nublado. Parece estranho sugerir que um modesto vaso modesto das flores mais baratas de uma floricultura possa render mais satisfação do que um Van Gogh original.
E, no entanto, o aspecto paradoxal e animador do prazer é o quanto ele se mostra esquisito e promíscuo. Ele não é encontrado com certeza nas boutiques mais caras. Ele pode se recusar a nos acompanhar em férias sofisticadas. O prazer é extremamente vulnerável a problemas emocionais, aborrecimentos e ao mau humor ocasional. Uma briga começada com um pequeno desentendimento sobre como pronunciar uma palavra pode acabar destruindo todos os benefícios de um resort cinco estrelas.
Um prazer pode parecer muito menor – comer um figo, tomar um banho, sussurrar na cama no escuro, conversar com uma avó ou ver fotos antigas de quando éramos crianças – e ainda assim ser tudo menos pequeno. Se bem compreendidas e elaboradas, essas atividades podem estar entre as mais comoventes e satisfatórias que podemos ter.
Apreciar o que está à mão não é uma solução preguiçosa. Não é um ataque à ambição. Mas não há sentido em perseguir o futuro até e a menos que sejamos melhores em estar mais sintonizados com os momentos modestos e as coisas que nos estejam disponíveis atualmente.
Mais fundamentalmente, a pequenez dos pequenos prazeres não é realmente uma avaliação do quanto eles têm a nos oferecer: é um reflexo de quantas coisas boas o mundo nos nega injustamente. Um pequeno prazer é um grande prazer a postos, é um grande prazer que ainda não recebeu o reconhecimento coletivo que merece.
Valorizar pequenos prazeres significa confiar um pouco mais nas nossas próprias reações. Não podemos esperar que tudo o que é adorável e encantador seja aprovado pelos outros antes de nos deixarmos encantar. Precisamos seguir os sinais silenciados de nossos cérebros e reconhecer que estejamos vivendo algo importante, mesmo que os outros ainda não concordem com isso.
Nós somos dominados pelo esforço: por melhores relacionamentos, trabalhos e vidas pessoais. Inquieto, acreditamos, é sinônimo de sucesso. Nada deve ser bom o suficiente por muito tempo. Mas, ao nos preocuparmos com níveis inatingíveis de excelência, negligenciamos prazeres mais modestos, mais perto de casa.
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Texto do The Book of Life
Tradução Cassia Zanon