07/17/2020
Cultura, Todos
Palavras Intraduzíveis
Há muitos humores, necessidades e sentimentos que o nosso próprio idioma ainda não definiu com precisão. A palavra perfeita, mesmo que vinda de outro lugar, pode nos ajudar a explicar o que transita no nosso interior, a nós mesmos e aos outros. A existência dessas expressões nos garante, silenciosamente, que um estado mental não é exatamente raro, mas sim raramente mencionado. A palavra certa traz dignidade a nossos problemas e nos ajuda a identificar mais precisamente do que realmente gostamos ou o que achamos irritante. Veja algumas das nossas palavras intraduzíveis preferidas:
_ Forelsket (norueguês)
O sentimento eufórico no começo do amor. Mal conseguimos acreditar que alguém tão perfeito entrou na nossa vida. Essa pessoa nos melhora e nos completa. Podemos dizer: “Fui dominado pelo forelsket quando nos demos as mãos…”
_ Saudade (português)
Um anseio melancólico agridoce por algo lindo que já se foi: um romance, uma casa de infância ou uma empreitada em ascensão, por exemplo. Há dor, mas também prazer, por algo tão amável ter acontecido em nossas vidas.
_ Torschlusspanik (alemão)
Literalmente: pânico com o fechamento do portão. A sensação claustrofóbica e ansiosa de que oportunidades e opções estão se fechando. Você perdeu o barco, precisa se firmar, está ficando velho demais.
_ Eudaimonia (grego antigo)
Frequentemente traduzida como “felicidade”, na verdade essa palavra significa o tipo mais profundo de realização, que pode ser representada por uma vida amorosa e profissional próspera, por exemplo. A eudaimonia pode andar de mãos dadas com muito da frustração e da dor do dia a dia. É possível que você tenha eudaimonia, ainda que de tempos em tempos seja um ser um tanto rabugento.
_ Litost (checo)
O desespero humilhado que sentimos quando alguém nos lembra, acidentalmente, por meio da própria conquista, de tudo o que deu errado em nossas vidas.
_ Querencia (espanhol)
Descreve um lugar em que nos sentimos seguros, um “lar” – que não precisa ser literalmente onde vivemos – de onde tiramos nossa força e inspiração. Na tourada, um touro pode estabelecer uma querencia em uma parte da arena onde irá recuperar suas energias antes de partir para outro ataque.
_ Mono no aware (japonês)
Uma sensibilidade aguçada quanto à transitoriedade das coisas adoráveis. Uma ciência melancólica de que tudo de bom desaparecerá, combinada com um grande aproveitamento desta beleza fugaz. A visão de uma flor de cerejeira causa esta emoção como nenhuma outra coisa.
_ Vade Mecum (latim)
Na tradução literal significa “venha comigo”. É usado em referência a um livro que, como um amigo, é um guia sábio, útil e constante durante a vida. Ser um vade mecum é o ideal ao qual toda a literatura aspira. As sábias e consoladoras Meditações de Marco Aurélio, escritas no ano 180, são um vade mecum ideal.
_ Fika (sueco)
Uma pausa tradicional do trabalho, normalmente envolvendo uma xícara de chá ou café. Em escritórios suecos, você deve, quase necessariamente, fazer uma fika, não importando o quanto esteja ocupado. Nesse momento, você não deve discutir assuntos de trabalho, mas conversar agradavelmente com os colegas e conhecer quem está acima e abaixo de você na hierarquia oficial. É democracia e comunidade em uma bebida.
_ Iktsuarpok (inuit)
Uma sensação de expectativa ansiosa que faz uma pessoa ficar olhando pela janela para ver se um visitante aguardado está chegando.
_ Mamihlapinatapei (yagan)
Um olhar significativo trocado entre duas pessoas que querem se beijar, mas estão com medo de serem rejeitadas.
_ Ataraxia (grego antigo)
Um estado de calma ao qual todos os filósofos estoicos aspiravam. É uma falta de agitação que vem de entender como o universo funciona, aceitar o destino, saber o que se pode controlar e, portanto, focar apenas no que a pessoa pode realmente mudar. Muito útil em situações que não podemos controlar.
_ Wabi-Sabi (japonês)
A qualidade de ser atraente por ser imperfeito de alguma forma.
_ Cafuné (português brasileiro)
O ato de correr os dedos pelo cabelo de outra pessoa, de forma suave, mas profunda.
_ Ya’aburnee (árabe)
O desejo de morrer antes de outra pessoa, porque seria insuportável ficar sabendo que ela morreu. Uma sensação frequentemente tida com relação aos próprios filhos.
Texto da The School of Life