06/05/2020
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Natureza
A era moderna lidou brutalmente com a natureza como nenhuma outra. Eras anteriores podem não tê-la tratado com muito respeito — os gregos antigos arrancaram árvores da maior parte de seu litoral até o fim da Antiguidade, os romanos desmataram grandes áreas do Norte da África e mataram muito de sua vida selvagem para comer e para lutas de gladiadores, mas o velho mundo não tinha a simples agitação do novo, nem sua dinamite, motosserras, pesticidas, armas e usinas de processamento.
Enquanto ferrovias cortavam o continente americano, a natureza era dizimada com uma profundidade incomparável. Havia 25 milhões de bisões na América do Norte no século 16; no final do século 19, existiam menos de cem. A certa altura, havia um bilhão de árvores em todo o continente; em 1900, 85% delas tinham desaparecido.
Em países que se modernizavam, as pessoas sabiam que algo importante estava sendo perdido e muitas tentativas urgentes foram feitas para desacelerar as extinções. O vale do Yosemite foi protegido por Abraham Lincoln em 1864. Na Inglaterra, o Lake District foi protegido por força legal no final do século 19. Já na Austrália, o Royal National Park foi estabelecido ao sul de Sydney em 1879 e a Suíça criou o primeiro Parque Nacional Europeu em 1914. Em menor escala, a maioria das cidades modernas criou parques abertos para seus habitantes: o Englischer Garten foi fundado em Munique em 1789, o Victoria Park de Londres foi estabelecido em 1845, o Lincoln Park abriu seus portões em Chicago em 1865 e o Central Park de Nova York foi concluído em 1876.
Ao tentar justificar por que a natureza poderia ser tão importante, os promotores de parques nacionais e urbanos sempre davam uma resposta: a sociedade industrial, com suas fábricas, ruas movimentadas e blocos de apartamentos densamente povoados, tornou imperativo que as pessoas tivessem uma chance de sair na natureza para ter ar fresco e exercício. Árvores e habitats tinham de ser preservados para mantermos a forma.
Embora seja evidente por si só, outra coisa – menos mencionada e mais difícil de indicar – também estava em risco: a ideia de que a natureza pode ser altamente necessária para o que algumas vozes ainda ousavam chamar de nossas “almas” e outras chamavam, mais simplesmente, de nossas psiques. Parecia que a natureza era tão importante para tratar os males psicológicos trazidos pela modernidade quanto para cuidar dos males físicos. A modernidade nos deixou doentes – e a natureza tinha algumas das curas.
Texto: The Book of Life