06/26/2020
Autoconhecimento, Todos
Escrita como Terapia
Temos muitos sentimentos vagos de mágoa, inveja, amor, ansiedade, esperança e arrependimento, mas, na maior parte do tempo, não paramos para dar sentido a eles. É desconfortável demais e especialmente difícil porque, muitas vezes, estamos ocupados e agitados, hiperconectados, mas um pouco solitários. Para realmente entender o que sentimos e pensamos, precisamos nos afastar das distrações, do pensamento comum e das opiniões dos outros. Precisamos desenvolver a intimidade com nós mesmos.
Nossos pensamentos não pensados têm pistas sobre nossas necessidades e nossa direção no longuíssimo prazo. Colocá-los no papel é essencial. Através da escrita, reconhecemos padrões a observar e, talvez, superar. Podemos traçar uma estratégia – uma tarefa notavelmente negligenciada. Podemos nos perguntar por que fazemos as escolhas que fazemos, questionar narrativas com problemas e criar outras novas. Podemos considerar ideias antes de nos comprometermos com elas e reforçar boas ideias que já conhecemos.
Escrever é, essencialmente, a tarefa de descobrir e desenvolver o que pensamos. Dificilmente existe uma meta pessoal mais importante.
Jornada
Toda vida boa deve ser rica em projetos: novas abordagens sobre como fazer as coisas. Nossos projetos podem ser para livros, empresas, roteiros de filmes, filhos, viagens, decoração de casa ou ambições políticas. Nossas vidas estão repletas de jornadas dos tipos interior e exterior, que precisam ser capturadas em um diário. Ás vezes, registramos uma viagem em torno do Cabo da Boa Esperança ou cinco dias em Roma. Outras, sem nenhum significado místico por trás disso, estaremos envolvidos no acompanhamento de uma jornada interna: uma viagem para um tipo de relação diferente com nosso trabalho, nossa família ou nossos companheiros.
Jornadas físicas e emocionais precisam de monitoramento cuidadoso, ou então provavelmente ficaremos perdidos, sem direção e esquecidos. Precisamos registrar os momentos mais significativos que acontecem conosco: a surpresa que sentimos em um novo lugar (pode ser as montanhas perto de Tóquio ou as margens do Bósforo) ou diante de uma nova ideia ou emoção (talvez estejamos apenas lendo Lao-Tzu ou nos apaixonando de verdade pela primeira vez, por nosso filho ou um companheiro). Devemos apreciar os triunfos e as dificuldades de nossas jornadas – assim como um alpinista pode escrever sobre como enfrentou uma nevasca ou o que aprendeu com uma queda. Um diário é uma ferramenta pequena e elegante que compensa nosso esquecimento endêmico. Ele resume a viagem mental e física, dá uma vida mais longa a inspirações e sensações fugazes, decodifica experiências, preserva os tesouros que encontramos no meio do caminho; ele permanecerá como um registro de quem somos.
O que frequentemente queremos de nossas viagens são suvenires, mas aqueles bons são desesperadoramente raros. Quando viajamos, lojas de brindes nos mostrarão camelos em miniatura ou Torres Eiffel de plástico. Quando nos aposentamos depois de uma vida na empresa, ganhamos uma foto emoldurada. Marcamos a jornada até a formatura na faculdade com uma beca e um certificado. Precisamos de algo melhor do que isso; o que precisamos, acima de tudo, são registros de sensações e ideias. Precisamos poder ler, daqui a muitos anos, sobre o que sentimos e como aquilo nos marcou. Este é um lugar para anotar onde estivemos, em nossa mente e no mundo – e por que foi importante.
Artigo da The School of Life