11/16/2018
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Ampliando a Busca por Diferentes tipos de Trabalho
Algo essencial que pode dar errado quando pensamos em uma carreira é que ficamos fixados em um tipo específico de trabalho que, por um motivo ou outro, acabe mostrando não ser uma opção realista ou promissora. Talvez a vaga seja extremamente difícil de garantir, possa exigir longos anos de preparação ou esteja em um setor que se tornou precário e, portanto, nos nega boas perspectivas de longo prazo.
Chamamos isso de fixação – e não simplesmente um interesse – para indicar que o foco no trabalho está se tornando problemático, porque temos uma noção sufocante de que nosso futuro está nesta profissão específica e apenas nela – enquanto, entretanto, enfrentamos um grande obstáculo em transformar nossa ideia em realidade.
Podemos, por exemplo, estar fixados em publicações literárias, mas vemos que há poucas vagas e que o salário não cobre o aluguel pago para morar em qualquer lugar a uma distância razoável do emprego. Ou então podemos nos interessar pelo jornalismo sério, ainda que sua base econômica tenha ruído consideravelmente. Podemos ficar obcecados com a ideia de uma carreira política, embora, na realidade, a chance de realizar grandes mudanças seja dolorosamente pequena; podemos também ficar fixados em uma carreira no cinema, embora a concorrência seja feroz e, portanto, as chances de sucesso sejam mínimas e terrivelmente instáveis.
A solução para essas fixações está em entender mais atentamente qual é nosso interesse, porque quanto maiores a precisão e a exatidão com que consideramos o que realmente importa pra gente, maior a chance de descobrirmos que nossos interesses e seus pontos positivos realmente existem em uma gama muito mais ampla de ocupações do que imaginamos até agora. Nossa falta de compreensão sobre o que realmente buscamos – e, portanto, nossa interpretação um tanto comum e óbvia do mercado de trabalho – nos levou a um túnel de opções muito mais estreito do que o garantido.
A fixação não ocorre apenas com relação ao trabalho. Também podemos ficar fixados em uma pessoa específica, que amamos e admiramos e de quem não conseguimos ficar longe – mesmo se ela, infelizmente, não estiver interessada em nós ou nos trate muito mal. Apesar do abuso, dizemos a nós mesmos (e a quem se preocupa conosco) que simplesmente não conseguimos imaginar outra vida sem ela, por ser tão especial (talvez seja anormalmente engraçada de vez em quando ou toque um instrumento brilhantemente ou tenha um pessimismo sarcástico encantador).
A maneira para pararmos de nos fixar não é dizer a nós mesmos que não gostamos dessa pessoa ou tentar esquecer o quanto ela nos atrai – é sermos muito sérios e específicos sobre a possível fundamentação dessa fixação e, então, começarmos a ver que as qualidades que admiramos de fato existem em outras pessoas que não têm os problemas que atualmente impossibilitam uma relação realizadora. A investigação atenta sobre o que amamos em alguém nos mostra, de forma paradoxal, mas também muito libertadora, que poderíamos amar de verdade outra pessoa.
Entender como somos – o que nos dá prazer – é, portanto, uma atitude essencial antifixação. Ao fortalecer nosso apego a qualidades, enfraquecemos nosso apego a pessoas ou trabalhos específicos. Quando compreendemos adequadamente o que nos atrai em um trabalho, identificamos qualidades também disponíveis em outros tipos de emprego. O que realmente amamos não é este trabalho específico, mas diversas qualidades que vimos primeiro ali, normalmente porque esse trabalho era o exemplo mais visível de um depósito delas – e é aí que o problema começou, porque trabalhos visíveis demais tendem a atrair interessados demais e, então, ficam em posição de oferecer apenas salários muito baixos.
Ainda assim, na realidade, as qualidades não podem existir somente ali. Elas são necessariamente genéricas e aparecem sob disfarces menos óbvios – assim que aprendemos a olhar.
Imagine alguém que ficou muito obcecado com a ideia de se tornar jornalista. A simples palavra “jornalista” se tornou um crachá cobiçado que incorpora tudo o que essa pessoa acha que quer. Desde cedo, a profissão sugeria glamour e estímulo, empolgação e dinamismo. Essa pessoa se acostumou com pais e tios se referindo a ela como futura jornalista. Começou quando ela tinha 12 anos. Entretanto, o setor agora está em declínio terminal e absurdamente saturado. Resultado: bloqueio e raiva.
A atitude recomendada é parar a busca inútil por emprego e estágios não remunerados e perguntar a si mesma o que pode ser realmente atraente em sua empolgação intuitiva com o jornalismo. Quais são os prazeres que busca aqui – e que podem existir em outro lugar, mais favorável, no mundo do trabalho?
Somos propensos a uma imprecisão muito natural aqui. Muitas vezes, simplesmente gostamos de como determinado trabalho soa, mas, se fizermos a análise dos pontos positivos, começamos a tirar o véu e olhar mais assiduamente para os prazeres em oferta. Poderemos constatar que, depois de examinado, o jornalismo oferece alguns dos seguintes prazeres: capacidade de se envolver em questões políticas e sociológicas sérias, analisar políticas, escrever pensamentos com elegância e ser respeitado por seu poder crítico.
Assim que esses elementos são esclarecidos, fica claro que não podem estar exclusivamente conectados ao setor que chamamos de jornalismo. A combinação não pode existir e ser necessária apenas em jornais e revistas. Não está realmente vinculada a qualquer setor específico. As qualidades podem aparecer (e aparecem) em muitos outros lugares. Uma empresa de investimentos financeiros, por exemplo, pode ter uma necessidade tremenda de analisar mercados emergentes e explicar seu potencial e possíveis pontos fracos a clientes; uma universidade pode precisar analisar e entender mudanças em seu ambiente competitivo e explicá-las de uma forma clara e interessante para sua equipe; uma empresa petrolífera pode ter de analisar suas futuras necessidades prováveis de emprego e transmitir isso a equipes de recrutamento em todo o mundo. Esses setores não estão sob o guarda-chuva do jornalismo, mas têm necessidades e oportunidades que oferecem os mesmos pontos positivos associados, inicial e um tanto superficialmente, com o jornalismo.
A investigação revela que os prazeres que procuramos são mais móveis do que inicialmente suposto. Eles não têm de ser perseguidos apenas no mundo da mídia – podem ser mais acessíveis, seguros e financeiramente recompensadores quando procurados em setores muito diferentes da economia.
Este não é um exercício para nos fazer abrir mão do que realmente queremos. A atitude libertadora é ver que o que queremos existe em lugares além dos que tínhamos identificado.
A mesma análise pode ser feita com relação a ensinar. Isso, por sua vez, não precisa ser feito em uma escola fundamental ou de ensino médio; uma pessoa pode, em essência, ser professora em um conglomerado de aeronáutica (você tem de ensinar novos recrutas sobre a natureza do setor) ou uma empresa de gestão de capital (tem de ensinar os executivos a lidar com clientes difíceis). Ademais, alguém fixado em política pode perceber que os prazeres que busca (influenciar assuntos da sociedade) estão igualmente disponíveis (e são mais bem recompensados e têm mais consequências) em um emprego no conselho de turismo ou em uma companhia de exploração de petróleo. Isso pode parecer uma degradação somente se não entendermos suficientemente bem o que estamos realmente buscando. O lado surpreendente e libertador da análise de pontos positivos é que ela revela que um setor em particular nunca pode ser a chave para encontrar um trabalho que conseguimos amar, porque, quando adequadamente entendido, um prazer é – ainda bem – genérico e, portanto, pode aparecer em muitos lugares diferentes e inicialmente inesperados. O conhecimento atento sobre o que amamos nos liberta.
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