Voltar

Afinal, a vida tem sentido?

Do que se trata o sentido da vida

Ficar se perguntando com muita insistência sobre qual seria “o sentido da vida” pode fazer você parecer uma pessoa um pouco pesada, estranha ou simplesmente ingênua. Hoje em dia, as pessoas costumam dizer – às vezes com tristeza, outras vezes de forma cínica – que “a vida simplesmente não tem sentido”.

 

Mas tentemos outra abordagem. Porque perguntar-se sobre o sentido da vida é uma atividade extremamente importante. A vida tem um significado substancial – e há, de fato, uma série de medidas práticas que podemos tomar para garantir uma existência com o máximo de significado.

 

É importante compreender, contudo, que não há significado na vida além daquele que podemos encontrar por nós mesmos como espécie. Não há nenhum tipo de significado objetivo escrito nas estrelas, em um livro sagrado ou numa sequência de DNA.

 

Talvez o que leve as pessoas a lamentar que a vida não tem sentido são variedades específicas de infelicidade. Vamos considerar alguns exemplos bem comuns:

 

  • Você está em um relacionamento, mas a paixão que sentia no início já desapareceu há muito tempo. Parece que vocês não têm mais nada de interessante para conversar nem compartilham sentimentos ou ideias profundas. Parece, como se diz, “sem sentido”. Ou então você está solteiro e, embora tenha muitos amigos, toda vez que os vê, a conversa é superficial e sem graça.
  • Você está na universidade estudando para obter o diploma. Você escolheu esse curso em parte porque se sente confuso sobre quem você é e o que quer da vida. Você achava que ler livros e assistir a palestras esclareceria as coisas, mas as disciplinas são maçantes e desconectadas das suas inquietações. Nada faz sentido para você.
  • Você trabalha em uma grande empresa e recebe um ótimo salário, mas o trabalho em si não parece relevante para o mundo. A sensação é que você não está fazendo diferença na vida de ninguém, da mesma forma que não há nenhuma parte profunda sua que você possa incorporar ao seu trabalho. Parece que, se ele fosse feito por um robô, daria na mesma.

A partir dessas vertentes, podemos começar a extrapolar uma teoria a respeito do sentido da vida.

 

 

Encontrando significado por meio da experiência humana

É possível encontrar sentido para a vida em três atividades em particular: comunicação, compreensão e atos de serviço.

 

Começando pela comunicação. Somos, por natureza, criaturas únicas, individuais, mas muitos de nossos momentos mais significativos têm a ver com instâncias de conexão: com um parceiro amoroso, por exemplo, quando revelamos nossa intimidade física e psicológica, ou quando formamos amizades com as quais podemos compartilhar partes muito verdadeiras das nossas vidas. Ou em uma viagem para um novo país, quando conversamos com um nativo e sentimos uma emocionante sensação de vitória sobre as barreiras linguísticas e culturais. Ou quando somos tocados por um livro, uma música ou um filme, que fazem emergir emoções profundamente íntimas, mas que nunca havíamos externado de forma tão clara ou bela antes.

 

Há também o sentido que se revela por meio da compreensão. Trata-se do prazer que experimentamos sempre que esclarecemos alguma confusão (sobre nós mesmos ou sobre o mundo). Podemos ser um pesquisador científico ou um economista, talvez um poeta ou mesmo um paciente em tratamento de psicoterapia: o prazer dessas atividades decorre da capacidade de mapear e dar sentido ao que antes era desconhecido.

 

Em terceiro lugar, há o ato de servir. Uma das coisas mais significativas que podemos fazer na vida é servir outras pessoas e melhorar a vida delas, seja aliviando fontes de sofrimento ou gerando novas fontes de prazer. Assim, podemos trabalhar como cirurgiões cardíacos e estar cientes todos os dias do significado de nosso trabalho; ou estar em uma empresa que está fazendo uma diferença modesta, mas real, na vida das pessoas, ajudando-as a ter uma boa noite de sono, prestando um bom serviço de entregas rápidas ou emocionando-as esteticamente com móveis elegantes. Ou então servimos aos outros não por meio da nossa profissão, mas pelo cuidado que dedicamos aos nossos amigos, parentes ou mesmo à própria Terra. Muitas vezes somos levados a nos portar de forma inerentemente egoístas.

Mas alguns dos momentos mais significativos acontecem quando transcendemos o próprio ego e nos colocamos a serviço dos outros – ou do planeta. Deve-se acrescentar que, para que esse gesto seja de fato significativo, ele precisa estar em sincronia com nossos valores e interesses genuínos. Nem todo mundo achará a medicina, o trabalho social, o balé ou o design gráfico carreiras significativas. É uma questão de saber o suficiente sobre nós mesmos para encontrar nossa própria maneira de servir ao mundo.

 

Munidos dessas ideias, podemos enfim definir nada menos que o sentido da vida. O sentido da vida é buscar o florescimento humano por meio da comunicação, da compreensão e de atos de serviço.

 

Como avançar rumo a um futuro mais significativo

Para ter uma vida significativa, há outras coisas específicas em jogo.

 

Precisamos ter relacionamentos com outras pessoas: não necessariamente românticos (que são muito superestimados em nossa sociedade), mas conexões através das quais coisas importantes sejam compartilhadas – e aqui também podemos estar falando, é claro, de um relacionamento com a literatura ou com a música.

 

Também precisamos nutrir uma cultura que nos conduza cada vez mais à compreensão de si mesmo e do mundo. Os grandes inimigos dessa empreitada são as mídias de massa, que

disparam informações caóticas num fluxo sem fim, assim como ambientes acadêmicos ou laborais apegados a concepções ultrapassadas e estéreis.

 

Por fim, precisamos encontrar um bom trabalho, e um bom trabalho para todos, o que implicaria um mundo repleto de empresas e organizações voltadas não apenas para o lucro, mas para a assistência e a melhoria genuína da espécie humana. Além disso, precisamos ajudar as pessoas a descobrir a própria “sintonia” interior que pode ser aplicada ao trabalho, de modo que elas não estejam apenas servindo em si, mas servindo de uma forma que converse com seus interesses.

 

Infelizmente, existem muitos obstáculos para uma vida significativa. Na área da comunicação, podemos citar a ênfase exagerada dada ao sexo, a subestimação da amizade, a falta de entrosamento na vizinhança e a ausência de uma cultura de cuidado coletivo. No nível pessoal, a falta de habilidades emocionais acaba afastando pessoas do convívio social.

Na área da compreensão, faltam-nos boas mídias. E não podemos deixar de citar a desconfiança que ainda paira sobre a psicoterapia e a introspecção, além de um mundo acadêmico majoritariamente pomposo e desconectado da realidade social.

 

Com relação aos atos de serviço, a preocupação exagerada com o dinheiro por parte de indivíduos e empresas coloca o foco no ganho financeiro em detrimento das necessidades genuínas dos outros. Trata-se de um sistema excessivamente grande e complexo, no qual o indivíduo sente-se perdido e não consegue perceber o impacto de seu trabalho. Do ponto de vista pessoal, podemos apontar a timidez, o esnobismo ou uma mentalidade rebanho como possíveis causas que impedem a pessoa de conhecer a si mesma e seus talentos autênticos.

Para construir um mundo mais significativo, precisamos enfatizar a educação emocional, a comunidade, uma cultura de introspecção e um tipo de capitalismo mais honesto.

 

Talvez ainda não tenhamos uma vida significativa, mas é fundamental afirmar que este conceito é eminentemente plausível – e que compreende elementos claramente nomeáveis, pelos quais podemos gradualmente seguir lutando.

 

Veja nosso calendário completo de aulas e eventos aqui.

By The School of Life

Compartilhe este conteúdo

Conteúdos Relacionados