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Por que pessoas realmente sociáveis não gostam de balada

Por que pessoas realmente sociáveis não gostam de balada

É bastante comum associarmos a imagem do que é ser uma pessoa sociável ao prazer de ir a festas – e ao de dar festas também. Segundo esse imaginário, ser sociável significa gostar da ideia de estar em um lugar lotado de convidados, muitos dos quais desconhecidos e/ou segurando um drink alcoólico na mão, e onde as luzes costumam estar mais baixas do que normalmente estariam e a música mais alta do que o recomendável para compreender a voz de outra pessoa.

 

Festas se tornaram sinônimo de sociabilidade por conta de certas ideias subjacentes sobre o que uma verdadeira conexão social pode exigir e implicar. Presumimos que a sociabilidade brota naturalmente quando muitas pessoas estão reunidas em um mesmo espaço; que isso significa falar muito e, principalmente, com alegria sobre as coisas que estão acontecendo em nossas vidas; que ser sociável é sinônimo de um jeito brincalhão e carismático de ser, melhor ainda se incluir um estoque de boas sacadas e anedotas divertidas.

 

Mas essas suposições ignoram duas objeções importantes. Em primeiro lugar, a verdadeira sociabilidade – isto é, a conexão real entre pessoas – quase nunca é construída por meio de coisas divertidas. Antes, ela é o resultado de nos mostrarmos vulneráveis diante de outra pessoa, revelando algo que está quebrado, perdido, confuso, solitário ou mesmo em sofrimento dentro de nós. Criamos conexões genuínas quando ousamos trocar pensamentos que, no limite, nos expõem à humilhação e ao julgamento; fazemos amigos de verdade quando compartilhamos de forma franca e sem censura um pouco da agonia e da confusão de estarmos vivos.

 

Em segundo lugar, a verdadeira sociabilidade requer contexto. É tão comum estarmos sob constante pressão para parecermos normais, autoconfiantes e no controle da situação que, compreensivelmente, não nos sentimos à vontade para revelar espontaneamente nosso verdadeiro eu. Nosso modo padrão de ser envolve (e não há nada de errado nisso) mentir sobre quem somos e o que realmente está acontecendo em nossa vida.

Isso sugere que uma ocasião genuinamente social talvez seja bem diferente do que o imaginário popular pressupõe. Pensamos que um “bom anfitrião” é aquele que se certifica de que há vinho suficiente e, em um piscar de olhos, garante que todos os presentes saibam os nomes uns dos outros. Mas, em um sentido mais profundo, um bom anfitrião é aquele que cria as condições necessárias para que estranhos possam se sentir seguros para ser quem são – e poderem ser revelar tristes ou desesperados uns para os outros.

 

Infelizmente, o mundo moderno parece particularmente resistente a qualquer coisa que se assemelhe ao mais temido de todos os tipos de encontros sociais: a reunião corporativa. A ideia básica de qualquer festa é simplesmente encher um salão e deixar o resto por conta da espontaneidade e da natureza de cada um. Porém, para firmarmos um compromisso com a sociabilidade profunda, talvez tenhamos que reconhecer que é preciso de um pouco de coreografia artística a fim de alcançar a zona psicológica na qual as conexões podem se desenvolver. É natural precisarmos de incentivo (às vezes até de um cordão de segurança) para conseguir compartilhar nossas tristezas, assim como é natural precisarmos de ajuda para fazer networking (e aqui não no sentido de encontrar novas oportunidades de investimento, mas para identificar quais são os arrependimentos, as humilhações ou as aflições que temos em comum).

 

As festas, da forma como estão estruturadas atualmente, constituem um ardil inteligente de uma minoria aguçada, talvez apenas dez por cento da humanidade, para persuadir o restante de nós de que nos foi proporcionado o contato social que desejamos. Mas, na verdade, é preciso ser uma pessoa extremamente insular e misantrópica para achar que o que acontece em uma festa comum realmente conta como um encontro necessário com seu semelhante. Portanto, se você sentir um horror persistente a festas, seja generoso com sua intuição. Isso não significa que você não gosta de outros seres humanos, mas sim que sua concepção de contato social talvez seja ambiciosa demais para se contentar com o que é oferecido na maioria das festas. A marca de uma pessoa realmente sociável pode, em muitas situações, ser simplesmente um forte desejo de ficar em casa.

 

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By The School of Life

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